quarta-feira, 24 de março de 2010

HISTÓRICO EMOCIONAL QUE O CORPO REVELA


A Cinesiologia é o estudo dos movimentos do corpo. O movimento está presente em toda a vida e em tudo o que é vivo. Desde o momento da concepção, o feto se movimenta e adquire formas que mudam continuamente até o nascimento. As transformações do corpo continuam a mudar gradativamente com o decorrer da vida, assumindo formas e posturas. O corpo é moldado principalmente diante das reações emocionais, pois o impulso de desejo reprimido constantemente é armazenado no corpo.
Keleman (1996) acredita que a anatomia é apenas o destino e, sob a ótica do “principio formativo”, o corpo está em constante movimento de transformação de acordo com as reações emocionais experienciadas. A postura corporal adotada pelo individuo é o resultado da interação recíproca de múltiplos fatores e está intimamente ligada a aspectos psicoemocionais.
A disposição corporal no conjunto é a própria expressão do mundo exterior (DALLA PRIA, 2007; DELIBERATO, 2007; Gagey & weber, 2000; LOWEN, 1979).
A postura é todo o somatório de vida desenvolvido por hábitos posturais nos aspectos biopsicossociais. A estrutura anatômica e a postura corporal assumida representam todos os posicionamentos que o corpo adquire diante das diversas situações vivenciadas. O sentimento e a capacidade de resposta é que molda a vida, adquirindo uma arquitetura somática (KELEMAN, 1992).
A história da vida é gravada no corpo, por meio das experiências perceptivas e das reações emocionais. As percepções se materializam no corpo formando a identidade da imagem corporal.
Essas informações mostram a inter-relação e interdependência física, emocional e social na construção da arquitetura corporal de cada individuo. As filosofias orientais, chinesa e hindu, há muito tempo estudam o ser humano de forma integrada e holística. Da mesma forma a psicossamática engloba e aborda o individuo de forma indivisível com uma visão não separatista corpo-mente.
A forma natural do corpo em posição ortostática[1] é o alinhamento com relação a força da gravidade[2], sempre buscando o equilíbrio para se manter em pé. Se alguma parte estiver fora do centro, obrigatoriamente o corpo é forçado a buscar um realinhamento para manter-se na verticalidade. Dessa maneira, o corpo se realinha de forma compensatória, como por exemplo, o desalinhamento de um segmento do corpo, ântero-posterior ou lateral, é acompanhado por um desalinhamento compensatório de outro segmento ou segmentos; o corpo funciona de forma uma lógica. Quando o desalinhamento não é balanceado proporcionalmente, outros grupos musculares passam a sofrer tensão exagerada (DALLA PRIA, 2007; KURTY & PRESTERA, 1989).
Ao se observar o corpo, é importante ver essa relação de alinhamento. O eixo ideal para se obter equilíbrio é onde passa uma linha imaginária vertical que liga pontos do topo da cabeça, meio da orelha, do ombro, do quadril, do centro do joelho e do tornozelo. Essa linha também passa através da junção da parte inferior da espinha e do grande osso triangular apoiada na sua base. Quando esses pontos estão alinhados, cada segmento sustenta aqueles que estão acima. A gravidade mantém o corpo assentado e com um mínimo de dispêndio de energia para assegurar a posição ereta (KURTY& PRESTERA, 1989).
Kurty e Prestera (1984) afirmam que quando se está em desequilíbrio, cada movimento se torna pesado devido à ação da gravidade. Emocionalmente o corpo não deixa de ser também influenciado por essa relação, expressados em sensações de sobrecarga, com os corpos curvados para frente em direção ao solo ou inclinando-se para trás, na tentativa de resistir à gravidade.
Lowen (1982) diz que o corpo não mente. Mesmo que o individuo queira omitir os seus sentimentos e atitudes, o corpo delatará a impostura pelo estado de tensão que é criado. O corpo é um informante fiel do histórico emocional de cada pessoa, revela traumas passados e a personalidade atual. É a unificação das experiências vividas e do modo como o ser interior se mostra. Essas mensagens não-verbais transmitidas podem ser apreendidas através da leitura corporal.
Sendo assim, o Naturólogo[3] pode integrar em sua prática um domínio vital para a avaliação naturológica: o olhar para o outro. Um olhar atento, consciente e investigador. Observar, analisar e interpretar as informações do corpo, considerando o formato anatômico, a postura, o alinhamento e posicionamento corporal e tensão muscular a fim de compreender o que pode pronunciar a disposição de cada parte do corpo.
O Naturólogo pode utilizar-se da leitura subjetiva do corpo como uma ferramenta adicional, tendo em mente que as partes não são isoladas, devendo ser analisadas no contexto geral que o organismo se apresenta. Abordando o corpo humano de forma ampla e integrada. A atenção à linguagem corporal possibilita ao Naturólogo apreender o estado emocional, decodificando as informações de todos os dados que ao corpo se referem, entender “como é o corpo enquanto fenômeno de consciência, enquanto personalidade e enquanto agente social” (Gaiarsa, 1984, p.9), ou seja, o universo do ser. Cada acontecimento vivido desde a primeira infância até a fase adulta é marcado profundamente na anatomia corporal.
O artigo tem como objetivo descrever as possibilidades de leitura do histórico emocional de cada indivíduo, visualizando os padrões corporais, através das observações e descobertas de pioneiros do estudo sobre o corpo e psique, como Wilhelm Reich, José Ângelo Gaiarsa, Stanley Keleman, Alexander Lowen, Ken Dychtwald, Ron Kurtz e Hector Prestera.
Neste artigo, apenas por fins didáticos, o mapa geográfico do corpo será apresentado e dividido em suas partes no sentido da verticalidade, de baixo para cima, dos pés a cabeça, descrevendo cada parte do território corporal e seus relacionamentos em um nível mais especifico, comportando explicações sobre os vínculos existentes entre as partes do corpo e o ser interior.


[1] Em pé (Dalla Pria, 2007)
[2] Força que atrai o organismo continuamente para o centro da Terra (KURTZ & PRESTERA 1989, p.45)
[3] O Naturólogo estuda o individuo, num contexto integral do ser, considerando os seus aspectos biológico, psíquico, social e energético, buscando resgatar a Saúde Integral, baseada nos conhecimentos das Medicinas Xamânica, Chinesa e Ayurveda (Hellmann; Wedekin; Dellagiustina, 2008).

Mais informações: Artigo de Cinesiologia Aplicada de Adriana Yukie Inoue, 2009-1.

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