quarta-feira, 24 de março de 2010

A MÚSICA E A CINESIOLOGIA APLICADA

A cinesiologia e a música possuem intimamente uma ligação muito forte. Desde os tempos antigos já mencionavam essa relação, mesmo sem o propósito. Von Baranow (1999) informa que a utilização da música com todos os seus elementos são considerados terapêuticos desde a antiguidade para enfrentar as enfermidades, melhorias de comportamento e, inclusive, como meio de comunicação, por exemplo, os índios com seus rituais.
Em outro contexto, Rasch (1991) menciona sobre um jesuíta italiano chamado Francesco Maria Grimaldi, que foi o primeiro a relatar ter ouvindo sons produzidos por músculos em contração. Embora seu livro, Physicomatheis de lumin, tenha sido publicado em 1663, dois anos após sua morte, não se dispunha de técnicas para estudar esses sons até 300 anos mais tarde. Nos últimos anos, a invenção do estetoscópio eletrônico e análises computadorizadas tornaram as pesquisas exeqüíveis nesse campo. Oster mostrou que a amplitude do som muscular é diretamente proporcional ao peso usado para manter uma contração constante. Tais sons parecem originar-se da vibração de fibras musculares isoladas, particularmente as fibras de contração rápida. No futuro, talvez seja possível usar esses sons para determinar quais músculos são ativos num dado momento e o quão intensamente cada um está trabalhando. Fregtman (1999) traz como exemplo os hindus (pessoas que habitam a Índia), onde ao cantar, movem o tronco do corpo, o dedão do pé e o polegar, sendo natural o ato instintivo de acompanhamento com impulsos motores; o desenvolvimento de uma melodia, por sua vez, é tão antigo como o próprio canto.
Roederer (1998) comenta que o tímpano, que capta as oscilações de pressão da onda sonora, atinge o ouvido e as converte em vibrações mecânicas que são transmitidas por meio da ligação de três pequenos ossos para o ouvido interno, ou cóclea, no qual as vibrações são classificadas de acordo com gamas de freqüência, captadas por células receptoras, e convertidas em impulsos nervosos elétricos e o sistema nervoso auditivo, que transmite os sinais neurais ao cérebro, onde a informação é processada, apresentada como uma imagem de detalhes auditivos em certa área do córtex (a superfície do cérebro e o tecido subjacente), identificada, armazenada na memória e eventualmente transferida para outros centros do cérebro. Esses últimos estágios levam à percepção consciente dos sons musicais.
Para dar continuidade, McClellan (1994) conclui que a audição, portanto, é tanto uma questão da mente quanto do cérebro. Quando um som penetra a nossa consciência e decidimos dar-lhe alguma atenção, começa um processo psicológico de audição muito personalizado. Nosso primeiro passo é submetê-lo a uma verificação de memória baseada na nossa avaliação de suas características. Determinamos se esse som (ou música) já foi encontrado antes e, em caso afirmativo, em que circunstâncias e qual a reação nessa ocasião.
De acordo com Von Baranow (1999), a proveniência de um som se constitui basicamente por movimentos que geram vibrações e, consequentemente, geram ondas sonoras que se espalham nos meios sólido, líquido ou gasoso. Os sons em si contêm quatro qualidades: altura, duração, intensidade e timbre e a música possui três elementos essenciais: harmonia, melodia e ritmo. Através dos sons, é possível ter uma amplitude aos movimentos que facilitam a expressão emocional e corporal dos indivíduos dentro de um contexto terapêutico.
O fato é que esses sons podem ser emitidos através de música e não se trata apenas de ouvir algum tipo de música que agrada aos ouvidos e percepções, mas se trata de um objetivo terapêutico no sentido de auxiliar a pessoa em busca da sua individualidade pelo seu processo interior trazendo o movimento mais solto para si.
Von Baranow (1999) adiciona ainda que o som é uma vibração mecânica advinda de um movimento, ou seja, uma ação sonora implica num movimento, desde o das cordas vocais, do aparelho fonador, até do corpo como um todo, recebendo e enviando vibrações. O trabalho corporal é intrínseco ao sonoro-musical, adquirindo uma importância fundamental e sendo um elemento indispensável a ser observado e trabalhado durante um tratamento envolvendo a música e o movimento. O movimento está inserido no ato de tocar um instrumento e a expressão sonora é antes, uma expressão corporal, portanto, faz-se necessário estudar a cinesiologia do movimento corporal juntamente com a emissão de ruídos ou sons de acompanhamento.
Os movimentos corporais respondem por processos cognitivos através de estímulos externos que, neste artigo, de acordo com Gattiker (2005), possui uma conexão direta com o cérebro, que recebe os estímulos com a ajuda de impulsos elétricos. Estes desencadeiam os movimentos e todas as atividades e funções do corpo. Hill (1993) comenta que no ano de 1965, o doutor George Goodheart, um conceituado quiromassagista norte-americano, descobriu que as experiências utilizadas na cinesiologia para determinar a força e o tônus dos músculos em todos os movimentos das articulações também podiam demonstrar o equilíbrio da energia de cada um dos sistemas do corpo (estômago, pulmões, intestinos, etc.) e, sendo assim, associando-se com a música e os sons pode-se concluir que auxiliará na verificação desse equilíbrio energético. Fregtman (1993) comenta que os estímulos sonoros prazerosos provocam uma emoção do protoplasma, do centro para a periferia. Ao inverso, os sons desagradáveis ou desprazerosos provocam uma remoção, da periferia para o centro do organismo. Estas duas correntes direcionais básicas da biofísica correspondem aos dois afetos básicos do nosso aparelho psíquico, prazer e angústia. O movimento físico e sua correspondente sensação são funcionalmente vistos através das reações do indivíduo.
De acordo com Rasch (1991), embora as variedades e qualidades do movimento humano sejam infinitas, ao nível da ação terminal o mecanismo efetor é básico. A estrutura operacional é a unidade motora que é um grupo de fibras musculares esqueléticas inervadas por um neurônio motor originário da medula espinhal. Essa unidade motora ou atua por contração de suas fibras musculares, ou não atua. Não há outras possibilidades. Toda a versatilidade do movimento humano depende da ativação seletiva de unidades motoras individuais em inúmeras combinações.
Rasch (1991) complementa ainda que, em muitos aspectos, acontece de estar lidando diretamente com células ou sistemas complexos como o animal ou homem em movimento, um importante objetivo da biomecânica é a melhora do desempenho. Esta melhora, seja a de um atleta de elite ou de um indivíduo recuperando-se de uma lesão traumática, pode ser alcançada pelo menos de três maneiras: melhorando o indivíduo (por exemplo, aumentando a função e interação musculares); aprimorando equipamentos utilizados na execução (como modificando a roupa protetora para esportes de contato, projeto aerodinâmico de trenós e projeto de uma cadeira de rodas); ou melhorando a execução da tarefa, talvez para atender melhor às limitações fisiológicas ou estruturais do indivíduo.
Pelo raciocínio de Von Baranow (1999), devemos prestar atenção a imagem corporal do indivíduo, seus movimentos e gestos, o lugar que seu corpo ocupa no espaço, sua coordenação motora, o equilíbrio e a lateralidade, dos movimentos amplos até a motricidade fina, sua expressão facial, aspectos que dizem respeito à psicomotricidade, juntamente com os conteúdos emocionais manifestados. Devem também estar atentos a como esses movimentos corporais devem ser trabalhados num processo terapêutico, em conjunto com os sons e as músicas, sempre dependendo do enfoque direcionado à queixa ou à patologia apresentada e aos objetivos traçados. Essas expressões corporais são normalmente simultâneas à produção sonora.
Além dos processos vinculados a música e ao som para auxiliar na cinesiologia, Fregtman (1999) fala que vinculadas aos poderes da música, surgem duas necessidades: o movimento (o movimento corporal e rítmico) e a emissão de ruídos ou sons de acompanhamento.
Como esse artigo não se baseia apenas no estudo físico do indivíduo, mas sim em um todo, se referindo a estudos emocionais, mentais e energéticos também, verificou-se um comentário de Fregtman (1999), onde diz que cada som ou vibração energética possui uma altura ou freqüência determinada e, portanto, ressoa numa determinada zona do nosso corpo, podendo chegar a dissolver bloqueios corporais e facilitar o fluxo de energia. Sendo assim, através dos movimentos da cinesiologia (balanceamento muscular como exemplo), pode se relacionar e iniciar um diagnóstico ou tratamento.
Dentro desse contexto, McClellan (1994), menciona que toda a energia, todas as forças do universo, são movimentos que emanam de um ponto (seu próprio centro) e se irradiam em ondas circulares para todas as direções, manifestando-se como vibrações ou oscilações. As manifestações cessam apenas quando as forças que perderam o equilíbrio recuperam seu estado primordial, a unidade divina. Logo, quando falamos do estado primordial, queremos dizer o estado em que todos os fenômenos materiais deixaram de existir. Em sua verdadeira essência, a matéria também está em movimento e, se esse movimento chega a deter-se, a matéria deve necessariamente deixar de existir. Comenta também que a música resulta de nossos processos biológico, afetivo, cognitivo e espiritual, e é uma atividade inerente ao homem. Por isso mesmo, reagimos a ela em todos os quatro níveis. A reação biológica implica processos corporais tais como ritmo e profundidade da respiração, ritmo cardíaco e coisas do gênero. A resposta afetiva envolve a emoção. A reação cognitiva diz respeito à satisfação e à estimulação estéticas. Uma reação espiritual é transpessoal, no sentido de experimentarmos algo de transcendental. Sentimos uma plenitude maior que a consciência individual e uma unidade de forças universais e experiência humana. Uma reação musical completa é o que ocorre nos quatro níveis. O grau em que a música manifesta processos biológicos, afetivos, cognitivos e espirituais depende do condicionamento cultural, valores sociais e inclinações pessoais. A capacidade de reagir à música nos quatro níveis é uma questão de escolha pessoal.
McClellan (1994) diz que o corpo humano é formado por um grande número de sistemas vibratórios de várias frequências e densidades interligadas e interdependentes de um ambiente de fluidos contido por uma cobertura exterior perfurada altamente elástica. Conhecido como corpo físico denso, é uma somatória de todos os organismos de que é feito e um veículo para a evolução espiritual no mundo físico. A substância do corpo é uma virtual sinfonia de frequências, sons e ritmos biológicos, mentais e emocionais em um estado de fluxo contínuo que procura realizar e manter o estado de equilíbrio perfeito.
No corpo físico denso estão o esqueleto, os sistemas muscular, circulatório, respiratório, digestivo, endócrino, nervoso, excretivo e reprodutivo e diversos fluidos. Todas essas estruturas e esses fluidos são formados por átomos. Estes formam moléculas que, por sua vezes, formam as várias células dos músculos, ossos, órgãos, glândulas, nervos, sangue e outros fluidos. Um filme muito ampliado de uma célula mostra um movimento constante que se desdobra em si mesmo, embora a forma externa seja mantida. Tal como o dr. Guy Manners menciona que onde há movimento deve haver fricção e, onde há fricção, deve haver som. Por diminuto que seja, o som tem de estar presente. De modo que há som naquela pequena célula.
McClellan (1994) fala que a música é uma matriz dinâmica de inúmeras camadas de relações tonais em constante mudança que se desenrola no tempo, através da qual podemos experimentar emoções intensificadas e uma alternância dos nossos estados de consciência. Em virtude da sua qualidade dinâmica, nossa atração básica pela música é ao mesmo tempo física e emocional. Física porque se desloca pelo ar mediante ondas de pressão molecular que podem ser sentidas corporalmente e emocional porque criam ambientes de humor aos quais reagimos em um nível subconsciente e não-verbal. É através da nossa reação física e emocional à música que se desenvolvem atitudes mentais e espirituais que, por sua vez, criam a base do nosso gozo estético. Quando a música é ouvida pela ação dos nossos ouvidos, pode também ser sentida por nosso corpo físico, pois, quando o som se desloca pelo ar, ondas de pressão parecidas com rugas são criadas pelo movimento das moléculas de ar.
Teoricamente, conclui-se que a música é uma expressão de processos biológicos, afetivos, cognitivos e energéticos em um contexto cultural. Isto é, reflete os processos biológicos da respiração e do pulso, transmite uma atitude emocional, é ordenada logicamente conforme o seu material musical singular e dá expressão à comunhão transpessoal dentro de parâmetros culturalmente definidos. Do mesmo modo, a reação à música deve ser física, deve dar expressão a uma experiência emocional, envolver e estimular a mente e ser enriquecedora e animadora para o espírito. A música reflete a atividade e o processo do homem, pois é através dela que o espírito, a mente e o corpo atingem uma unidade de experiência.

Mais informações: Artigo de Cinesiologia Aplicada Christian Moreira Felizardo Cláudio, 2009-1, A COMPLEMENTARIDADE TERAPÊUTICA ATRAVÉS DOS ESTUDOS DA CINESIOLOGIA E DOS CONCEITOS SOBRE A MÚSICA.

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